Amor de Perdição - um dos que trago comigo.

Cheira a terra húmida, que esfriou de um sol que ainda mal a deixou de queimar. Tem grasnar de corvos como melodia. Tem folhas douradas, vermelhas, castanhas, que caem em silêncio do céu, sem pedido nem comando, e revestem o mundo como tapete de boas vindas. Tem a nostalgia como sentimento. Tem um romance doce e triste como pano de fundo. Não tem o calor do Verão que nos dilata os corpos, queima a pele e humedece o corpo. Nem tem frio do Inverno, que nos fere o rosto e gela o corpo. Mas tem mais. Tem a doce melancolia que traz a cada brisa fria, a cada ligeiro pingo de chuva que nos cai no cabelo, no rosto, nos ombros, nos sapatos. Tem o doce cheiro da compota. O ritual das colheitas. Tem o sabor a vinho. Tem o reencontro com a vida como estandarte e, no entanto, sabemos que é hoje, é agora, que tudo começa a morrer.

Tem, nele, tons que sabem a mel, tem o vento que sopra de mansinho e arrasta as folhas pelo chão, naqueles fins de tarde nem claros, nem escuros... cinzentos, e sós. Como eu. E como tu.

Tem cor, tem sabor, tem cheiro, tem vida, tem morte. Tem tudo o que poderia querer, o que poderia gostar. Não é certo, nem é constante. É indefinido. É de luas. É um bocadinho de mim (ou sou eu que sou um bocadinho dele).

Chama-se Outono, começa com as mesmas letras de Outubro, e é a minha estação do ano de eleição.